O
que vou falar de seguida não se inspirou na Cimeira de Copenhaga sobre o clima.
Minhas
senhoras e meus senhores delegados e público, a CDU traz a esta Assembleia uma
fracção de um tema que verdadeiramente só é conhecido pelas piores razões e
essas são os fogos florestais e, atrás deles, as incalculáveis perdas,
inclusive humanas, que tal facto implica além daquelas de foro ambiental.
Pendurados nesses é descoberta uma nova fonte de interesses, pois entendemos
que os reais prejuízos para a saúde, para o meio ambiente, para a fauna, para a
flora e para a real rentabilização dos montes exigem medidas concretas e
eficazes.
Em
nosso entender, as soluções que superiormente são tomadas no sentido de no
período de Verão evitar e combater as devastadoras chamas à custa de grandes
gastos em aluguer ou compra de meios aéreos (helicópteros e aviões), viaturas,
equipamento diverso, produtos de extinção de incêndios, etc, não resolvem o
problema dos fogos. Consideramos que são despesas avultadas que não passam de
paliativos, pois as áreas florestadas têm vindo a reduzir significativamente.
Todos
devemos saber, jovens e não tão jovens, que os fogos há umas décadas atrás não
eram tão desbastadores nem eram “capa” dos meios de comunicação social nem movimentava
esses meios atrás referenciados e nem eram os bombeiros voluntários ou
municipais que até cerca de 1970 intervinham nessas tarefas de ataque a
incêndios nos nossos montes.
As
gerações mais novas não pensem que não havia fogos, mas quem os apagava eram as
populações que se mobilizavam com rapidez e os enfrentavam.
Intervinham
com celeridade, pois quem se apercebesse que havia fogo, avisava os vizinhos e
alguém iria com rapidez tocar o sino grande da Igreja Matriz; diziam que
“estava a tocar a rebate”. A partir desse momento proprietários de terrenos no
monte e quem dele tirava benefícios pegavam em diversos utensílios de lavoura e
deslocavam-se para o local onde esse ocorria.
Grande
número desses incêndios eram controlados na linha da frente com meios
artesanais e numa segunda linha era feita outra barreira nos caminhos e zonas
adjacentes que com facilidade eram limpos e aí se poderiam defender.
Nesse
período, nessas áreas de pinhal havia matos e estavam florestadas; eram
importantes para lavradores que utilizavam esses espaços para múltiplos fins
como a pastorícia, recolha de lenha, mato e caruma para currais de animais;
havia locais para a apicultura, e as árvores como pinheiros e sobreiros
cresciam em áreas significativas, etc. Os pinheiros eram resinados sendo mais
uma fonte de receita
Os
montes eram mantidos limpos e representavam uma fonte de receita com o abate de
algumas árvores para madeira, assim como a resinagem dos pinheiros e a lenha
aproveitava-se para cozinhar e aquecer-se, além de explorarem a água que era
transportada para a agricultura e usos domésticos.
Podemos
dizer que há umas décadas atrás o lavrador mantinha um equilíbrio na exploração
dos montes em interligação equilibrada e harmoniosa com a actividade agrícola.
A
CDU entende que essa conjugação de actividades que se desenvolviam entre o
campo e os terrenos elevados, de uma forma ajustada, teria começado a
deteriorar-se com o início da guerra colonial, com o aparecimento de grandes
industrias no litoral, com a imigração, com o 25 de Abril, e acentuou-se com a
entrada de Portugal na CEE.
Sabendo
que a nossa zona é de minifúndio, pequenas áreas de cultivo, não seria
muito rentável transformar a grande maioria das explorações agrícolas para
culturas intensivas e altamente mecanizadas.
Os
produtos agrícolas, que eram cultivados de uma forma natural e com o uso de
adubos naturais, cultivos ecológicos, deixaram de ser praticados, pois tinham
menor rentabilidade que aqueles cultivados e produzidos de uma forma
artificial. Na actualidade muitos portugueses não conhecem os sabores reais da
fruta, o cheiro das flores, o sabor da carne de diversos animais, e outros há
que nunca viram ao vivo os animais que consomem na sua alimentação.
Será de
referir que muitos agricultores foram aliciados para terminarem com
determinadas actividades recebendo dinheiro para deixarem de produzir, não lhes
sendo dadas orientações sobre o modo de trabalharem a terra noutras vertentes.
Na
sua maioria os lavradores foram abandonados à sua sorte. O resultado
destas práticas não se fez sentir somente no definhamento do cultivo dos
campos.
Os
montes, perante o abandono das actividades agrícolas, deixaram de ser
utilizados e assim se produz o desequilíbrio ecológico destes dois meios - o
agrícola e o florestal – tendo vindo este a ser pasto de grandes fogos.
As
entidades oficiais não podem lavar as mãos e acusar os proprietários desses
terrenos, pois foram elas as reais responsáveis na medida em que não deram
qualquer orientação de reconversão aos agricultores, ou, como agora dizem,
formação.
Criaram
todas as condições para que as populações abandonassem as suas aldeias,
especialmente as do interior.
Mas
a irresponsabilidade não ficou por aí, pois também eliminam e reduzem
significativamente os investimentos na vigilância e limpezas, especialmente de
áreas povoadas, eliminando “couteiros, sapadores florestais, guardas
florestais, cantoneiros, etc. Foi esse o exemplo de irresponsabilidade que o
poder público foi dando.
No
concelho temos dois pinhais estatais, o do Camarido e o da Gelfa, estando este
abandonado.
Estas
e outras áreas florestais, ainda nos dias de hoje, não só são dizimadas
pelos fogos mas também pelos apetites vorazes de interesses, como é do
conhecimento público e que passam ao lado das leis. São fenómenos que um
progresso selvagem vem originando, acentuando, etc.
Delegados
desta Assembleia, a CDU entende que quem nos vem gerindo e administrando não
tem pensado em rentabilizar estes espaços que representam 70% da área do
concelho de Caminha.
|
Área total
|
Áreaflorestal / %
|
Área
|
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Nacional
|
92 255km2
|
33 000km2 – 35,8%
|
3% Estado/12%Baldios
|
||
Distrital
|
2 255km2
|
1 285km2-57%
|
|
||
Concelhio
|
130 km2
|
91km2~70%
|
|
||
Terra
|
|
30%
|
|
||
A Floresta
em Portugal Continental
|
|||||
Espécies florestais
|
% Área florestal
|
Área (ha)
|
|||
Pinheiro
bravo
|
29,1
|
976.069
|
|||
Pinheiro
manso
|
2,3
|
77.650
|
|||
Outras
resinosas
|
0,8
|
27.358
|
|||
Azinheira
|
13,8
|
461,577
|
|||
Carvalhos
|
3,9
|
130.899
|
|||
Castanheiro
|
1,2
|
40.579
|
|||
Eucaliptos
|
20,1
|
672.149
|
|||
Sobreiro
|
21,3
|
712.813
|
|||
Outras
folhosas
|
3,0
|
102.037
|
|||
Total
|
100,0
|
3.349.327
|
|||
Nestas
últimas décadas quem nos tem governado não tem sabido dar vida ou rentabilizar
a maior área deste concelho e 1/3 da área deste País.
Os
anos correm, os fogos vão queimando maiores áreas e as espécies infestantes
ocupam cada vez maior superfície.
Entendemos
que, de entre as diversas etapas a pôr em prática, devemos começar pela
limpeza, arranjo e redimensionamento dos caminhos do monte que são tão públicos
como qualquer rua deste concelho.
No
plano de actividades que hoje vamos analisar, a maior área de VPA continua a
não merecer um mínimo de atenção – é esquecida.
Nos
nossos montes esquecidos existe uma flora rica em carvalhos, sobreiros,
pinheiros, amieiros, bétulas, castanheiros, oliveiras, etc, e arbustos como o
tojo, urze, carrasco, carqueija, loureiro, medronheiro, loureiro, azevinho.
Existe
ainda uma diversidade florística, sendo algumas espécies raras, algumas
endémicas como o feto-real que se encontra junto aos ribeiros.
Não
nos podemos esquecer que um ecossistema deste tipo não é só a
flora, mas também são os microorganismos e a fauna diversificada, podendo
ver-se as formigas, as abelhas, o javali, a raposa, o ouriço cacheiro, o
coelho, o sapo, a libelinha, a louva a deus, a joaninha, o milhafre, etc.
Nunca
é de mais salientar que as florestas têm um papel decisivo no equilíbrio
ecológico do planeta e, por tal, na sobrevivência do ser humano.
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