quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Emigramos ou ficamos?


Não somos um país normal Europeu, e não consigo descortinar porquê! As causas podem ser múltiplas , mas desconfio que, nisto, têm uma grande importância os dirigentes medíocres que temos vindo a ter ao longo da história, salvo boas e honrosas exceções.

Nos últimos anos um pensamento mesquinho, mercantilista, parece dominar as ideias , aspirações e anseios dos portugueses. Quando parecia que estávamos a entrar na Europa,  como sendo um país moderno, avançado tecnologicamente, com a criação de diversas Universidades, centros de investigação e diminuição da iliteracia, eis que chega “a crise”. Uma crise devolvida aos portugueses como fruto do seu próprio excessivo consumo e endividamento.
 
Sabemos que não é assim! 

Contudo não param de bombardear a cabeça dos portugueses convencendo-os de que é! Atordoando as pessoas com estatísticas , previsões económicas , subprime, swaps, rating, palavras que a maioria de nós nunca ouviu falar e que transportam a carga de nos deixar perplexos ante a sabedoria dos comentadores e a nossa muito provável ignorância.

Esmagam-nos!

A maioria, de cada um de nós, nada sabe de macro ou microeconomia e fica somente apreensivo ouvindo comentador após comentador. 

Já pensei , até, em fazer um “curso rápido de Economia e Finanças”, para lidar com a nova linguagem e conceitos.  Mas, depois, achei que o mundo transporta muitas outras palavras complexas, e que, afinal, a economia dos cidadãos e a politica que nos rege, deve viver muito mais do senso de justiça, e honestidade , do que de um país com ideias mirabolantes  de “estar cotado na bolsa”. 

Sendo claro que o país contem um Estado, que o Estado não é uma empresa, e não pode obedecer a essa  lógica de funcionamento,  os seus dirigentes devem ser das mais diversas áreas da sociedade, e não só economistas, ou rendidos à economia “dos mercados” (e/ou economicistas convictos?!).

Desconfio até,  que , cada vez mais, necessitamos, é de pessoas  que tenham uma ampla visão do que é ser cidadão e menos uma única  visão, estreita, da sociedade fundamentada em Bancos, dinheiro e transações de lucro.  Mas, antes e sobretudo, fundamentada  em outros valores, que não podem ser perdidos, como solidariedade, justiça social, diversidade, liberdade, direito ao trabalho, à educação, à saúde, e em muitos outros conceitos , para os quais se paga, e que constituem um Estado democrático, e que parecem cada vez mais arredios do quotidiano .

Os responsáveis pelo que de pior se vive neste país, deduz-se, das ultimas medidas deste Governo,  são : os trabalhadores!
 
Quem trabalha, não trabalha o suficiente, o que produz nada vale e deve ser desvalorizado. Trabalha mal, não contem eficácia, não contem eficiência. Somos dos “piores trabalhadores do mundo e para piorar as coisas somos uns preguiçosos, que só queremos férias, feriados, praia e futebol”. 
 
Está assim justificado o aumento para 40 horas do horário de trabalho, diminuindo mais o valor hora, o desaparecimento de feriados do calendário, a diminuição das férias anuais, a anulação de descansos compensatórios, os contratos precários, o despedimento fácil.

O trabalho vale pouco neste país, para quê valorizá-lo?

Povos do sul, como nós, é bom de ver,  não serão tão capazes e produtivos como os do norte. Com a sua ideia de serem felizes, gozando demasiado o sol que o clima lhes proporciona, e com uma tendência irredutível a simplificarem a vida,  os povos do sul não são lucrativos!
 
Nesse sentido, é, vendo bem as coisas,  toda esta preguiça e ineficácia que vem constituindo a crise… 
 
Claro, que assim, este Governo não descortina outra solução para a crise senão aumentar impostos a quem trabalha, (reduzir reformas a quem já trabalhou)  e deixar  todos os grandes problemas por resolver!

E ainda, por cima, pusemo-nos a pensar que eramos ricos, e a comprar, e a pedir emprestado, achando que podemos gozar das boas condições de vida, prazer, e sentido de pertença, como outros povos.
 
Por isso, certos países da europa, podem, com toda a legitimidade, pedir juros, ainda que usurários, a toda esta gente que se atreve a protestar por empobrecer.

Vistas bem as coisas, os portugueses, uma cambada, não têm mais do que merecem. Ou melhor ainda, têm o suficiente. E, por isso, e perante isto, o melhor é mesmo desvalorizar, mais ainda, a sua hora de trabalho, reduzir as reformas e pensões, aumentar a idade para as obter, retirar o tempo às famílias e pô-los a todos a trabalhar mais algumas horas por dia,  mais alguns dias por mês, mais algumas semanas por ano. 

Quando a altura chegar, e as famílias colapsarem, podemos sempre dizer que a ausência dos pais é que degenerou o comportamento dos mais novos, que a incompetência e desatenção paterna é geradora de gerações desviantes e sem valores.
Aí,  podemos criar instituições de apoio a crianças e jovens, lares de depósito de velhos e atirar os restantes trabalhadores para camas de hospitais por exaustão.
 
Mas como o SNS (serviço nacional de saúde) não tem quem o pague, e esta sociedade não pára de envelhecer, o melhor será que aos velhos não lhes seja dada a possibilidade de tratamentos de ponta , (que ficam mais caros , a todos nós). 

Que importa onde estará o dinheiro que estes idosos descontaram, toda a sua vida, para sustentar a sua velhice, e o apoio na doença? Isso agora não interessa nada! 

O que interessa é que , neste momento, não existem jovens suficientes , trabalhadores, para descontaram e pagarem a saúde de tantos velhos, que se amontoam, e já nada produzem que se veja.
 Que importa se ainda continuam a descontar, e a pagar IVA IMI, IUC, IRS, selo, ou outros? Isso é tudo desprezível!
O que interessa é que não trabalham , não produzem. E a produção é o mais importante, e o que gera riqueza.

Espera! Como? Gera riqueza?!…Pensávamos que não ! Que o trabalho era uma mais valia desprezível, de um monte de preguiçosos do sul , que pouco valem, e devem pagar
para trabalhar, uma percentagem  enorme, e crescente, de impostos para compensar   pelo que andam a gastar acima das suas posses!

Pronto, como querem que se perceba estes comentadores, cheios de belas e eruditas palavras sobre economia, se nem nos entendemos nestes raciocínios e conceitos básicos de Economia?!
Bolas, que os portuguese são mesmo lerdos e têm um país de terceiro mundo ou tendencialmente a empobrecer!

Então, vamos todos embora? 
É que consta que, lá fora, os portugueses são considerados trabalhadores de excelência, técnicos exímios, bem preparados, inteligentes, criativos, gente do melhor, muito valorizados. E, sendo assim, enriquecem pelo trabalho, saber e capacidade, adaptativa, criativa, persistência, eficiência, eficácia e valor intrinseco!!! 
 
Vamos?
Ou, se  ficarmos, melhor será que nos  empenhemos a valorizar o trabalho, a cultura, o saber, a participação cívica, batendo o pé, e  lutando pelas ideias e direitos. Numa perspetiva de Sec. XXI.
Mas, se nos formos embora , convém também que não nos esqueçamos, que hoje tudo o que é longe , é também muito perto, e o mundo das ideias não tem tempo, nem espaço que as encolha.  Quando são justas, são universais.  
E, talvez então, possamos ser um país normal, europeu e moderno.
 

Luísa Quintela | CDU - Coligação Democrática Unitária | Caminha

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